Havia os anos e neles os dias.
Havia os dias e neles ela.
Havia ela e nela nada.
Havia o nada e nisso lembranças.
Este vazio insiste em ficar. Permanecer, encher, secar...
Deve ser medo! É isso! Medo, medo do novo, medo do velho, medo de todas as coisas conseguidas e não conseguidas. Medo de mim, medo do medo.
As luzes de natal já estão se instalando pela cidade e vê-las brilhar me apaga ainda mais. Não encontro o lugar para chamar de lar, se aqui, se lá; estou deslocada em ambos. Mas as luzes de natal... Sinto saudades de casa, da casa dos pais. Aqui eu sou dona de mim e não sei administrar tão bem minhas posses, ou sei... (?) Aqui é diferente, aqui eu sou diferente, até as mesmas pessoas aqui são diferentes das mesmas pessoas lá. Os amigos aqui não são os mesmos amigos lá.
Eu saio de casa, eu saio de mim. Lá fora é bom; os amigos, a alienação, as aventuras! Há tanta coisa lá fora e tantas outras coisas para me preocupar. Em casa os fantasmas da responsabilidade e do futuro me cobram. Não tenho dinheiro pra pagar.
Não estou indecisa. Sei definitivamente o que quero. Ainda a pouco repassei o desejo na cabeça, o mesmo desejo desde anos atrás. O problema é que realizá-lo é complicado e não depende de mim, ou melhor, depende. Depende dos outros, depende dele, depende da vida, depende dEle, depende de mim. Tanta dependência torna meu desejo inexequível. A única vez que desejo, desejo tanto a ponto de pôr em prática e a única vez que não posso sozinha.
Pois bem, chorar será inevitável, tal como fugir. Esquecer será duro, assim como encarar. Desistir será lento, ao passo que esperar... Ah! Esperar é torturante, porém será a coisa certa a se fazer.
Havia lembranças e nelas esperança.
Havia esperança e nela amparo.
Havia amparo e nele força.
Havia força e nela desejo.
Havia desejo e ele era bastante.
Havia passado e havia de haver futuro!
(Algumas coisas simplesmente não me satisfazem. É inevitável.)
"e o que eu vou fazer se eu quero muito mais?"
Queria tudo e queria AGORA.
Pronto, vômitei.