quarta-feira, 30 de maio de 2012

Algo que costumava ser um coração


Sua mente nunca foi tão coesa como deveria, parecia mais a Teoria do caos na iminência de se fazer valer. Ridículos e pequenos momentos, frases, palavras ou imagens eram capazes de atear fogo naquela fogueira chamada pensamento. Sempre foi assim, mas agora ela tinha muito mais que uma alma inquieta, tinha um coração inquieto! Muito embora ainda não tivesse consciência do que isso significava- até então!
Começou a divagar sobre teorias, analogias, poesias, prosas e entre um ponto qualquer e outro menos relevante ainda: desistiu, aqueles pensamentos ficaram enfadonhos demais para passar o tempo. Dois dias escorrendo por entre as paredes de um apartamento sem varanda eram demais para a tagarela incorrigivelmente afoita. Mesmo sabendo dos riscos e consequências, espanou rapidamente algumas lembranças, algumas saudades, algumas vontades. Por mais relutante que fosse, ainda carregava mágoas. Mesmo rodopiando para se esquivar dos respingos que o mal alheio lhe lançava, ainda tinha amarguras e isso a fazia carregar um pouco de vingança. Quando existe raiva sempre há uma enorme carga de desapontamento. ‘Ah, que se dane.’ Encheu a boca e disse.
‘Que se dane’, aquilo era seu coração se pronunciando tão afoito quanto ela poderia ser... Era ele mesmo, travestido de soldadinho de chumbo, jurando estar protegido e a postos para se defender de qualquer ameaça.
O tédio ficou um pouco desconfortante. Um coração? Quanta bobagem. Ensaiou uns passos pelo quarto na surdez dos fones de ouvido e num rodopio estonteante se deixou cair de costas na cama, de braços abertos e balançando os pés. Um suspiro, dois... Quanta bobagem.