segunda-feira, 25 de julho de 2011

Costumes

Eu pensei que pudesse esquecer certos velhos costumes
Eu pensei que já nem me lembrasse de coisas passadas
Eu pensei que pudesse enganar à mim mesma dizendo
Que essas coisas da vida em comum não ficavam marcadas
Não pensei que me fizessem falta umas poucas palavras
Dessas coisas simples que dizemos antes de dormir
De manhã um "bom dia" na cama a conversa informal
O beijo, depois o café, o cigarro, o jornal
Os costumes me falam de coisas e fatos antigos
Não esqueço das tardes alegres com nossos amigos
Um final de programa, fim de madrugada,
O aconchego na cama, a luz apagada
Essas coisas só mesmo com o tempo se pode esquecer
Então eu me vejo sozinha, como estou agora e respiro toda liberdade que alguém pode ter
De repente ser livre até me assusta
Me aceitar sem você certas vezes me custa

Como posso esquecer dos costumes se nem mesmo me esqueci de você?


Composição: Roberto Carlos/ Erasmo Carlos

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Seu nome ainda é Daniel.

Eu sempre começava um texto explicando o porquê de estar escrevendo, dizendo como foi complicado começar, o que acontecia quando decidi escrevê-lo. Eu era sempre tão previsível. Posso ser do mesmo jeito ainda, mas acredito ter mudado. Sou uma nova Thuanny. Uma nova Thuanny que escolheu não sentir, que desistiu de escrever porque começou a desistir de sonhar os sonhos e optou por sonhar realidades. Tavez tivesse virado adulta e agora viver a correria do dia-a-dia fosse muito cansativo e ela só tivesse tempo livre pra ocupa-lo com não fazer nada.
Esse blog deveria estar desativado, assim como a velha MIM MESMA, porém as coisas nunca se vão. Eu aprendi.
Muita coisa sempre vai acontecendo e é inevitável. Ficar sozinha por um tempo não assusta mais, fico até orgulhosa por deixar entrar um pouco de solidão, as vezes até tenho medo de estar deixando entrar solidão demais. Vivo tentanto achar o ponto de equílibrio entre o que eu era e o que decidi me tornar, as duas coisas beiram extremos que doem e a dor é algo que quero incansavelmente evitar.
Então aqui estou eu, sozinha em casa, um período da universidade quase terminado, poucos vazios, tudo organizado, cheia na quantidade certa como há muito tempo não conseguia fazer. Então eu perco alguém, perco de verdade, perco sem a metáfora. Então me percebi assim, chorando feito criança cuja mãe foi trabalhar e notei que foi a primeira vez, em toda a minha vida, que chorei feito adulto.
Antes não era assim, mas parece que cada coisa que eu faço lembra ele. Eu sempre via e ouvia isso dos outros e nos filmes e novelas, mas não fazia ideia de como era sentir. Saber que não vou ouvir aquelas piadinhas decoradas, aquelas manias, tudo tão previsível. Tudo era tão dele e agora tão sem sujeito, me obrigo a  pensar se os predicativos valem.
Ele se perdeu, ele não era meu, era dele próprio e lutou até se esgotar.

O dia já tinha amanhecido apagado e eu estava preocupada com ele, mesmo sem querer estar. O telefone tocou e eu já sabia o que iam dizer só em ver o nome no identificador de chamada, mas eu precisava ouvir a frase, a frase que eu esperava ser a corriqueira como: Daniel morreu, Daniel não aguentou... Ouço uma voz, doce, firme e calma de uma mãe preocupada em como dar a notícia a sua filha e diz: Daniel nos deixou.
Não! Ele não não nos deixou, ele nunca faria isso! Ele se deixou, se deixou depois de usar a última força existente nele para não nos deixar. Eu chorei.
Eu chorei.
Eu vi tantos ombros me amparando, tantas mãos me tocando, tantos abraços e tantas vozes dizendo que foi melhor, o sofrimento havia acabado e agora ele estava descansando que eu pensei se ele não poderia ter descansado na cama da casa dele. Aquele caixão parecia apertado e tantas pessoas murmurando ao redor pareciam incomodar seu sono, até a luz estava acesa. Em casa teria um cobertor e ele poderia me fazer cafuné como fazia antes da doença, se quisesse. Mas minha mãe tinha dito a frase mais triste que já ouvi, de verdade: Daniel nos deixou, e eu não sei como desfazer a frase. Não sei.


Contei o acontecido a um amigo e ele perguntou:
-Qual era o nome do seu tio?
-Era Daniel- respondi.
O verbo no passado não foi justo, os dias passam, pessoas não. Eu chorei. O amigo pediu pra não chorar, afinal a vida é assim mesmo, sorri meio amarelo. Eu não disse a ele, mas eu sei que a vida é assim e eu sei que não posso fazer nada além de chorar, porque se houvesse algo mais a se fazer eu faria. Chorar é o que me resta e se é isso que posso fazer por ele então farei, farei incansavelmente. Ele ainda é meu tio, ainda é Daniel, ainda conta piadas e ainda é e será muita coisa até o dia que eu me deixar, então vou levá-lo comigo.