sábado, 14 de fevereiro de 2015

Dito isto

Por motivos alheios a mim este blog empoeirado foi reinventado hoje. A escritora (e pela octogésima vez peço permissão para me chamar assim) de alma inquieta chamada Mim Mesma voltou, trazendo Alice e todos os eu-líricos que eu posso/serei capaz de inventar e reinventar.

Hoje retiro de mim todos o empecilhos e 'mimimis' que me impediam de prosseguir expondo meus erros gramaticais e meus erros de concordância verbal e intelectual. Por que não? Por que sim. 
 
Já terminando meu curso de letras e jornalismo Biomedicina, fui obrigada a escrever. SIM! OBRIGADA... Missão: agradecimentos do convite de formatura! Foi a hora perfeita para dizer 'olá' a Alice e Mim Mesma que, para meu espanto, permaneciam ali. Nós três nem nos conhecemos mais, entretanto a força da ocasião nos colocou lá, pequenas o suficiente para cabermos todas em um lugar só: entre letras.

Um esforço sobre-humano aqui e uma relutância lá, forma escritas algumas tímidas frases:

"Não me dei conta do que estava acontecendo até estar aqui, escrevendo esta mensagem! Não esperava que os meses fossem capazes de passar tão suave e vorazmente ao anunciar esse começo. Não imaginava que as frases de “Vai dar tudo certo!” da minha mãe, ou os olhos de “Confiamos em você!” do meu pai, ou os abraços da minha irmã pudessem transformar essa etapa em algo tão peculiar. Feliz e assustadoramente chegou o momento de compartilhar com vocês este turbilhão de sentimentos que sou obrigada a me tornar hoje, dedicando-os essa vitória.
Agradeço a Deus por todos os tropeços que cometi. Agradeço a todos os amigos que me deixaram fraquejar e a todos os professores que me tiraram noites de sono. Agradeço aos meus pais por cada problema extra que adicionaram e a minha irmã por cada dor de cabeça que pôde somar. Agradeço aos familiares e amigos que complicaram esta etapa me enchendo de saudades e cobranças. Sou grata pelos erros de percurso, porque eles sim me trouxeram até aqui. Todas as dificuldades puderam apimentar o sabor de me tornar Biomédica e revelar o Deus, família e amigos maravilhosos que tenho.
Quero agradecer especialmente a minha irmã. Minha companheira que observou de perto cada passo que dei nessa jornada e sentou ao meu lado sempre que me desesperei. E a um punhado de amigos que repetiam, incansavelmente: “um dia de cada vez”."

Bem brega? Concordo, mas é assim que o mercado caminha nesse ramo e eu me permiti ser piegas, o que  não vem ao caso. O fato é que senti as velhas e tão conhecidas náuseas, os comichões e as inquietações de alma. O fato é que precisava reaprender a escrever e me reeducar para caber dentro dos meus escritos. Então cá estou e cá pretendo ficar. Uma frase de cada vez...

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Sozinho

Já comentei por aqui como minha cabeça gira, não é? Começo com um assunto, daí ele sai remuendo, rodopiando, quando dou por mim...
Uma criação independente e com licença poética.


Deve ser isso mesmo. Eu tanto penei com o amor e tanto o pedi para sair de mim que ele saiu. Escafedeu. Fico estranha pensando assim. Não era imunidade que eu queria? A ganhei. Então porque raios estou assim, cabisbaixa. Eu, sinceramente, não me sinto confortável amando, não mais, não mesmo. Para alguns, o amor, pode ser luminoso, arrebatador, mas para mim é desastroso. Doeram todos os outros que passaram e sempre me encontrava lá, juntando uns pedaços que eu julgava valer pena colar. Restaram poucos.
Estresse pós-traumático. Longe de mim procurar terapia, estou bem, estou acostumada. Estou encaixada no pequeno espaço que restou, todo remendado, mas bem finalizado e tão bem estruturado que o digo pronto para receber um terremoto com alcances inimagináveis na escala Richter.
Não diria bem, diria estável e meio de supetão escuto um estardalhaço ao meu redor. Meu encaixe milimetricamente perfeito não funciona e corro riscos de sufocar. ‘Ta’ quentinho? ‘Tá’, mas eu não quero assim, eu sei o que vem depois ou no mínimo acabo de inventar finais para todos os que ousarem perturbar a paz arranjada duramente.
Pensei seriamente em colocar uma placa pendurada no pescoço: ‘Mantenha distância’, com letras miúdas: ‘Mulher com excesso de amor próprio, amante dos vibradores e da inseminação artificial’. Não gosto dessa brincadeira de psicologia reversa, quando eu quero algo é porque eu gostaria daquilo naquele momento, poxa. “Ah, quando você menos esperar o amor bate em sua porta!”... Quer saber de uma coisa?! Tente a próxima mais paciente, afinal eu simplesmente não podia ficar esperando você chegar para me sentir completa.
De tanto levar empurrões do amor, na minha cobiça de ser, eu simplesmente o ‘desinventei’ do meu prólogo e nem penso em coloca-lo em clímax algum da minha história. Não sei escrever com esse eu-lírico.  Eu tão somente sinto náuseas em pensar que lágrimas terão que cair, se não as minhas... Parece frio fora do meu refúgio. Desculpa. Não é você, sou eu. Na verdade não sou eu, foram os outros. 


Sabe que esse eu achei legal! Quanto a mim? Vou maravilhosamente bem, obrigada.

quarta-feira, 30 de maio de 2012

Algo que costumava ser um coração


Sua mente nunca foi tão coesa como deveria, parecia mais a Teoria do caos na iminência de se fazer valer. Ridículos e pequenos momentos, frases, palavras ou imagens eram capazes de atear fogo naquela fogueira chamada pensamento. Sempre foi assim, mas agora ela tinha muito mais que uma alma inquieta, tinha um coração inquieto! Muito embora ainda não tivesse consciência do que isso significava- até então!
Começou a divagar sobre teorias, analogias, poesias, prosas e entre um ponto qualquer e outro menos relevante ainda: desistiu, aqueles pensamentos ficaram enfadonhos demais para passar o tempo. Dois dias escorrendo por entre as paredes de um apartamento sem varanda eram demais para a tagarela incorrigivelmente afoita. Mesmo sabendo dos riscos e consequências, espanou rapidamente algumas lembranças, algumas saudades, algumas vontades. Por mais relutante que fosse, ainda carregava mágoas. Mesmo rodopiando para se esquivar dos respingos que o mal alheio lhe lançava, ainda tinha amarguras e isso a fazia carregar um pouco de vingança. Quando existe raiva sempre há uma enorme carga de desapontamento. ‘Ah, que se dane.’ Encheu a boca e disse.
‘Que se dane’, aquilo era seu coração se pronunciando tão afoito quanto ela poderia ser... Era ele mesmo, travestido de soldadinho de chumbo, jurando estar protegido e a postos para se defender de qualquer ameaça.
O tédio ficou um pouco desconfortante. Um coração? Quanta bobagem. Ensaiou uns passos pelo quarto na surdez dos fones de ouvido e num rodopio estonteante se deixou cair de costas na cama, de braços abertos e balançando os pés. Um suspiro, dois... Quanta bobagem.  

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Eu sei, eu sei, eu tinha desistido dos escritos! Sim, configura uma recaída e das grandes... Daquelas que você protela por dias, mas acaba cedendo!
Agora é a hora exata para recrutar a antiga Mim Mesma. É esquisito tentar fazê-la renascer já tão crescida e tão diferente do que sou agora. Tirá-la toda empoeirada e ficar fitando seus olhos me assusta, ainda mais porque eles ainda são tão iguais aos meus. Posso senti-la me observando intrigada e tão assustada quanto eu. Éramos o botão de emergência uma da outra e se eu a despertei agora algo deveria estar machucando, bagunçando ou me deixando maluca.
Ah, nada não, Mim Mesma! Eu só estava cansada de perder pedaços como sempre e tentar substituí-los por você. Decidi caminhar sendo metade, aceitar que todo mundo é a metade de um todo de outrora. Então, o que vê? Consegue sentir isto? Esta leveza? A calma, o cheiro de roupa limpa? A água que continua gotejando da torneira molhando toda a pia, mas que eu consigo secar, o vento que eu deixo entrar pela janela  trazendo poeira e o chão que eu aprendi a varrer. Entra, a casa 'ta' limpa, a cama 'ta' feita. Deita. Descansa. Dorme, mas não porque eu te obriguei e sim porque dá. Eu estou conseguindo me manter bem e é isso que está me deixando mal, essa condição de 'por um triz'... É desgastante. 

Comentei quanto estou romântica de uns tempos para cá? Então hoje eu queria publicar isto:

Eu meio que ainda desejo porque ainda sinto tremores, tesão, enjoo em mim. Eu meio que não consigo decidir entre o 'te querer' e o desistir. Eu meio que ainda quero muito e eu meio que sinto que meu querer é incapaz. Eu meio que sei aguentar te perder, eu meio que sorri pensando que dessa vez poderia ser diferente. Eu meio que te vi caminhando pela outra estrada enquanto eu meio que saltitava pela margem da minha. Eu meio que sorri, eu meio que chorei. Eu meio que te acompanhei, meio sem querer e meio que nem sei para que lado eu estava indo. Eu meio... E não sei se consigo ser  um quarto, não sei se consigo perder outro pedaço. Eu meio que quero continuar sendo eu meio só pela ideia de um dia encaixar um meio você. Aquela ideia passada de ser um, duas metades para então ser um todo ou dois zeros e virar um infinito. E é impressionante como se fica bobo, porque eu meio que vejo a seta enorme indicando para onde devo ir, mas eu meio que rejeitei, meio que tentando fingir. Meio que tentando ir com você. Agora eu meio que estou parada, meio que tentando escolher. Mas eu meio que continuo achando mais engraçado sua metade e a minha, essas duas estradas e aquela ideia passada de algumas palavras atrás.

Ficou tão poema infanto juvenil, mas eu gostei. É um bom começo para se recomeçar. (: 
Por: Thuanny, Alice e Mim Mesma, pois eu precisei de toda a ajuda pra ter coragem de clicar em publicar postagem. *-*

sábado, 6 de agosto de 2011

Nada que valha a pena !

Você vem sumindo faz tempo de mim, fugindo. Você vem sumindo faz tempo de mim, te apagando. É o sinal, sempre o sinal, dizendo que não é pra ser. Sempre sou eu batendo o pé, formando o bico e fazendo a birra, gritando querer o que não se pode, o que não se tem, o que não se terá.
Imaginei um encontro, "desses encontros casuais" (nunca fiquei satisfeita com encontros casuais!)... Você me vendo sem enxergar, querendo achar o que eu deixei partir faz tempo. Nesse devaneio você queria me ver e me achava cansada, cansada de muita coisa, inclusive do pouco de você. Mas era devaneio.

Hoje eu precisava salvar minha alma, mesmo que fosse escrevendo isso. Qualquer coisa pra me esquecer por alguns segundos e ver Alice, que a tempos não via. :)

"Partida" de novo.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Costumes

Eu pensei que pudesse esquecer certos velhos costumes
Eu pensei que já nem me lembrasse de coisas passadas
Eu pensei que pudesse enganar à mim mesma dizendo
Que essas coisas da vida em comum não ficavam marcadas
Não pensei que me fizessem falta umas poucas palavras
Dessas coisas simples que dizemos antes de dormir
De manhã um "bom dia" na cama a conversa informal
O beijo, depois o café, o cigarro, o jornal
Os costumes me falam de coisas e fatos antigos
Não esqueço das tardes alegres com nossos amigos
Um final de programa, fim de madrugada,
O aconchego na cama, a luz apagada
Essas coisas só mesmo com o tempo se pode esquecer
Então eu me vejo sozinha, como estou agora e respiro toda liberdade que alguém pode ter
De repente ser livre até me assusta
Me aceitar sem você certas vezes me custa

Como posso esquecer dos costumes se nem mesmo me esqueci de você?


Composição: Roberto Carlos/ Erasmo Carlos

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Seu nome ainda é Daniel.

Eu sempre começava um texto explicando o porquê de estar escrevendo, dizendo como foi complicado começar, o que acontecia quando decidi escrevê-lo. Eu era sempre tão previsível. Posso ser do mesmo jeito ainda, mas acredito ter mudado. Sou uma nova Thuanny. Uma nova Thuanny que escolheu não sentir, que desistiu de escrever porque começou a desistir de sonhar os sonhos e optou por sonhar realidades. Tavez tivesse virado adulta e agora viver a correria do dia-a-dia fosse muito cansativo e ela só tivesse tempo livre pra ocupa-lo com não fazer nada.
Esse blog deveria estar desativado, assim como a velha MIM MESMA, porém as coisas nunca se vão. Eu aprendi.
Muita coisa sempre vai acontecendo e é inevitável. Ficar sozinha por um tempo não assusta mais, fico até orgulhosa por deixar entrar um pouco de solidão, as vezes até tenho medo de estar deixando entrar solidão demais. Vivo tentanto achar o ponto de equílibrio entre o que eu era e o que decidi me tornar, as duas coisas beiram extremos que doem e a dor é algo que quero incansavelmente evitar.
Então aqui estou eu, sozinha em casa, um período da universidade quase terminado, poucos vazios, tudo organizado, cheia na quantidade certa como há muito tempo não conseguia fazer. Então eu perco alguém, perco de verdade, perco sem a metáfora. Então me percebi assim, chorando feito criança cuja mãe foi trabalhar e notei que foi a primeira vez, em toda a minha vida, que chorei feito adulto.
Antes não era assim, mas parece que cada coisa que eu faço lembra ele. Eu sempre via e ouvia isso dos outros e nos filmes e novelas, mas não fazia ideia de como era sentir. Saber que não vou ouvir aquelas piadinhas decoradas, aquelas manias, tudo tão previsível. Tudo era tão dele e agora tão sem sujeito, me obrigo a  pensar se os predicativos valem.
Ele se perdeu, ele não era meu, era dele próprio e lutou até se esgotar.

O dia já tinha amanhecido apagado e eu estava preocupada com ele, mesmo sem querer estar. O telefone tocou e eu já sabia o que iam dizer só em ver o nome no identificador de chamada, mas eu precisava ouvir a frase, a frase que eu esperava ser a corriqueira como: Daniel morreu, Daniel não aguentou... Ouço uma voz, doce, firme e calma de uma mãe preocupada em como dar a notícia a sua filha e diz: Daniel nos deixou.
Não! Ele não não nos deixou, ele nunca faria isso! Ele se deixou, se deixou depois de usar a última força existente nele para não nos deixar. Eu chorei.
Eu chorei.
Eu vi tantos ombros me amparando, tantas mãos me tocando, tantos abraços e tantas vozes dizendo que foi melhor, o sofrimento havia acabado e agora ele estava descansando que eu pensei se ele não poderia ter descansado na cama da casa dele. Aquele caixão parecia apertado e tantas pessoas murmurando ao redor pareciam incomodar seu sono, até a luz estava acesa. Em casa teria um cobertor e ele poderia me fazer cafuné como fazia antes da doença, se quisesse. Mas minha mãe tinha dito a frase mais triste que já ouvi, de verdade: Daniel nos deixou, e eu não sei como desfazer a frase. Não sei.


Contei o acontecido a um amigo e ele perguntou:
-Qual era o nome do seu tio?
-Era Daniel- respondi.
O verbo no passado não foi justo, os dias passam, pessoas não. Eu chorei. O amigo pediu pra não chorar, afinal a vida é assim mesmo, sorri meio amarelo. Eu não disse a ele, mas eu sei que a vida é assim e eu sei que não posso fazer nada além de chorar, porque se houvesse algo mais a se fazer eu faria. Chorar é o que me resta e se é isso que posso fazer por ele então farei, farei incansavelmente. Ele ainda é meu tio, ainda é Daniel, ainda conta piadas e ainda é e será muita coisa até o dia que eu me deixar, então vou levá-lo comigo.

sábado, 14 de maio de 2011

ELA

O dia está só começando e eu também, ela disse enquanto percorria o corredor com os pés nus e o coração agasalhado. Deixou o sol beijar de leve o rosto e decidiu: eu vou lutar!


(Micro texto antigo, não configura uma recaída)

domingo, 1 de maio de 2011

Argh!

Alice ficou parada. O blog ficou parado. Minha vida? Nunca!

Pensei em deletar minha conta, mas não tinha tempo suficiente. Eu jurei não mais escrever nada por aqui ou em qualquer outro lugar. Foi uma experiência única conseguir pirar em público. Conseguir expor Eu e Mim Mesma em público, eu mal conseguia me expor para mim mesma! Foi válido, muito válido! Eu cresci o bastante para notar a infantilidade dos meus escritos e os notei pequenos, certamente eu esteja grande demais para caber neles.
Eu deveria cumprir meu anseio de não mais brincar com palavras em papeis, ou de não mais brincar comigo em palavras. Mas hoje, bem... Hoje foi diferente. A alma inquieta voltou, muito embora eu tenha plena consciência de que foi só por hoje, e escrever parece salvar uma alma e eu pareço pequena o suficiente para caber direitinho nas minhas velhas entrelinhas.
Abri o caderno de folhas recicladas e fui folheando tentando encontrar minha revisão de citologia para, ora bolas!, revisar. Entre uma membrana plasmática e um corte de epidídimo achei uma porção de frases soltas que formavam um texto inteirinho. Foram escritas durante o período de adaptação. Eu não conseguiria calar mim mesma tão rápido assim! Logo hoje? Eu passei o sábado lendo Tati Bernardi, a inquietação encarnada. As palavras saltitantes dela aumentaram meu enjôo e desde que comecei a lê-la fiquei louca para vomitar ideias como fazia de costume.
Quanta coisa mudou em mim e ao meu redor? Minhas palavras não conseguiram acompanhar e pareciam se chocar entre si, escrever tornou-se inexequivel! Tornei-me inexequivel. Estava escrito com tinta preta, destacado com marca-texto azul: "Sei lá! Parece que nada pode dar certo, muito menos eu!". Lembrei que havia acordado irritada  com essa coisa que chamam de mim. Lembrei que eu mudava demais, tentava demais, pensava demais, acreditava demais, tais coisas me faziam diferente e eram os motivos da luz, não a que eu emanava para iluminar os outros por aí, mas a que eu pensava ser a melhor para me iluminar: econômica, muitos Watts e muito durável. Durar ela durou, mas esgotou toda energia da termoelétrica, então eu desisti. Desisti de mudar, para continuar sendo diferente. Desisti de tentar e perder do mesmo jeito. Desisti de pensar, porque qualquer coisa que eu vejo é melhor que as que penso. Desisti de acreditar, porque disseram que "viver é melhor do que sonhar".
Respondi a pergunta interior: nada mudou em mim. Fiquei parada, sentada na pedra do meio do caminho esperando a chuva gotejar até ela furar. Já a vida foi rodando, ou melhor, quadriculando por aí. Começou a chover, a pedra nem começou a quebrar e eu estou rachando de frio.

Sabe que na metade do texto eu já comecei a digitar com preguiça? Ficou bem parecido com o que eu era, minúsculo o bastante para alguém que não sabia mais escrever. Estou satisfeita pelo não ser. Agora posso voltar a ser quem eu estava tentando ser por mais um bom tempo.

sexta-feira, 25 de março de 2011

Algo

Estava sentada à mesa de uma lanchonete qualquer e estava estarrecida. As coisas aconteciam rápido demais, pelo menos as ruins, tão rápido que ao se dar conta já estava ali com umas duas bolsas e algumas peças de roupa dentro, pouquíssimo dinheiro na carteira e nenhum plano de ação. Tentava maquinar algo, o cérebro parecia trabalhar rápido, mas tal rapidez não surtia nenhum efeito, só uma dor de cabeça irritante. Aonde ela iria agora? O que faria de agora em diante? E ainda: Onde ia parar? Tinha uma sede interna de respostas e...


-SETENTA E SEIIIIIS!

Graças a Deus! Era seu pedido. Levantou-se e por um segundo pensou não conseguir mais caminhar com destreza. Sentiu-se tonta. Aquela bandeja posta em cima do balcão, ela precisava alcançá-la! Trouxe-a até a mesa. Que sanduíche era aquele mesmo? Não importava. Qual foi a última refeição que fizera? Talvez tenha sido o pão duro no café da manhã... É... Fora isso mesmo. Foi mastigando. Era esquisito comer depois de tanto tempo de estômago vazio, principalmente quando não se sentia fome, só uma leve fraqueza. No momento ela temia que aquela fosse sua última refeição e vejam só! Estava comendo um sanduíche e ele nem tinha bacon, só calabresa! Vida pão dura! Aquele episódio dramático merecia enredo melhor. Sua última refeição deveria conter algum prato com camarão, frutos do mar, escondidinho de charque ou quem sabe um banquete! Era isso, um banquete! Um banquete com vários de seus pratos favoritos. Mas não, aquele sanduíche mequetrefe era o único sabor que seu paladar experimentava.

Espera! O universo não estava conspirando, então aquela não deveria ser sua última refeição, mesmo! Calma, olhe ao redor. Nos filmes as pessoas encontram grandes chances tão facilmente, tão milagrosamente. Os protagonistas pagam seu último centavo na entrada de uma casa de... (o que seria aquilo? Uma espécie de boate, certo?)... E conseguem um excelente emprego, a felicidade bate à porta e as pessoas felizes encontram o amor de suas vidas, tudo isso cantando: Welcome to Burlesque... Vai que algum moço bonito e educado não sentava à mesa junto a ela, puxava uma conversa descontraída e de tão envolvente e gracioso ele a faria contar seu drama épico. Ofereceria emprego e, enquanto ela se organizava, um abrigo na casa dele. Ela seria esplêndida ao desempenhar sua função e logo seria promovida conseguindo o dinheiro necessário para suportar os gastos de um lugar para morar. Contaria ao rapaz, agora tão íntimo dela, que tinha conseguido, que pagaria o aluguel a ele referente aos meses que ela o incomodou e, agradecida, mostraria seu novo endereço. Ternamente diria não poder ter conquistado aquilo sem ajuda dele. Ele olharia no fundo de seus olhos, agora tão infinitos, bem diferentes do dia o qual a encontrou naquela lanchonete, tão rasos... Enfim, olharia nos olhos dela e faria uma declaração de amor. Não! Ele apenas a beijaria. Não. Ele diria qualquer coisa bonita (e ela ainda ia montar esse discurso) então a beijaria. Pronto! Mas como aquilo seria vida real os créditos não iam subir e eles diriam que estão vivendo felizes para sempre. Ele a levaria...

-NOVENTA E UUUUM!

Como assim? O quê? Que horas seriam? Ela passou tanto tempo ali sonhando? Era tarde! Onde ia passar aquela noite? Não poderia, definitivamente, voltar pra casa. Na realidade poderia! Poderia voltar e continuar como estava, vivendo o sonho de outra pessoa, mesmo ele sendo seu pesadelo. Acordando meio zumbi, sem vontade de nada e com vontade de tudo, sem fome, sem esperanças, um futuro sendo trilhado sem o seu consentimento, desgastada com algo que nem a deixaria satisfeita, só mais frustrada (e é até estranho imaginar um nível de frustração maior que aquele). As aspirações árduas que ela conseguia sonhar ultimamente eram só até a festa mais próxima: segurar firme até lá, economizar o dinheiro das entradas e o do álcool, conseguir a roupa certa e confortável, beber muito, extravasar, fugir, voltar, dormir, acordar e iniciar o plano festa novamente. Era isso e fim. Não, ela não poderia voltar. Afinal não era só aquilo. Existia bem mais, bem mais, bem mais do que ela pudesse suportar, pelo menos naquele momento.

-Anda, anda! – Ela disse enquanto olhava de um canto a outro encarando os clientes da lanchonete- Calma, ele vai aparecer! – Ela agora olhava pela janela, procurando alguém caminhando na rua.

Era tarde e o moço estava mais que atrasado. Ela teria de sair da lanchonete e quando ela saísse como ele iria encontra-la? O mundo era vasto demais lá fora, tanto que ela própria tinha se perdido. Anda moço bonito e educado...

Ela esperou o moço não chegar. Agora era tarde pra voltar atrás. Bateu com a testa no vidro da mesa umas três vezes, se quisesse morrer teria de bater com mais força e com aquela cabeça dura, bem mais forte ainda. Repassou inúmeros eventos ruins da sua vida e sentiu-se mais abatida.

-*Por favor, Deus. Por favor! – Ela tentou um prece baixinho . -Eu não posso ter sido uma menina tão má assim. Estou pagando pelo que mesmo, hein? Por favor, vida, faz esse moço chegar, faz esse milagre acontecer, me traz uma surpresa boa, poxa! Mostra uma resposta, uma ajuda, um amparo... – Abriu os olhos e esperou alguns segundos por um sinal, olhou o celular, leu todos os letreiros em volta, calou a mente e tentou escutar o coração, só reparou que ele estava acelerado demais e só ouvia a balburdia dos clientes da lanchonete. - Vida, eu prometo que serei bem desastrada pra você poder rir de mim, vou tropeçar no meio da rua, mas agora não poxa. Ri de mim desse jeito é fogo.

O celular vibrou como foi combinado, era Tereza e ela disse que acabara de sair do curso de inglês. Como Alice ainda estava ali na lanchonete Tereza a levaria com ela para casa. Assim ela teria onde passar a noite e, claro, poderia chorar e aliviar o peso do que tinha acontecido com alguém e ninguém melhor que ela.

(...)

Abriu a porta do carro, deu a última olhada ao redor, ansiosa por algum tipo de milagre e pelo moço. O carro começou a andar deixando a lanchonete para trás. Ela sentiu o estômago embrulhar porque agora... Bem, agora o desastre era oficial.
Eu não entendia nada direito. Tinha um bilhão de coisas espalhadas ali comigo e por ela estar confusa eu ficava pior. Comecei a me inquietar. Eu sabia! Eu estava esperando ansiosa, mas não posso negar que esperava por coisas boas.  Ela me desligou antes que eu achasse qualquer coisa por ali, mas senti que aquela história ia me render mais bagunça ao meu redor. Ela olhava seu rosto pelo retrovisor do automóvel, foi a última cena que vi, então ela nos recolheu!