sábado, 5 de fevereiro de 2011

Parte 1: Partida

O ano havia acabado, só agora ela notava isso de verdade. O ano, o mês e ela. Ela estava acabada, sentia como se furtassem sorrateiramente seu sorriso, ela sabia que conseguiria outros, mas não mudava a inquietação instalada nela justamente naquela noite. Após muita relutância ela começou a desfazer o seu mundo para empacotá-lo. Enquanto retirava as peças de roupa do armário tentava lembrar quanto tempo fazia desde que ela chamou um lugar de lar com a ternura merecida. Finalmente sua casa cheirava a casa, seu quarto era terno, arisco e memorativo como um quarto de uma jovem deveria ser. Analisava as cores, a cama, o espelho e de forma inconsciente seu reflexo. Sua mente incomodava bastante, aqueles pensamentos rápidos a faziam latejar e uma música talvez melhorasse o estado do estado de espírito dela. Selecionou todas a músicas do computador e voltou-se às malas outra vez. Tentando entender a vida e seus pormenores: por que algumas coisas simplesmente não aconteciam como ela queria? Por que ela teria de partir justamente agora? Por que...? Como...? Quando...? Será...? Onde...? O que...? Eu...? Ela dobrava e empacotava peça por peça. Perambulando entre as lembranças que as músicas fizeram ressurgir ela teimava em não entender. Teimava em querer mais, teimava em não estar satisfeita e teimava em não desistir.
Agora era hora de ir embora. As malas postas no carro e ela empacotada dentro de si. Era curto o trajeto até a saída da cidade, mas eram longas as lembranças, e como era doído revivê-las rua a rua. O carro ia sumindo na pista e muita coisa aparecendo nela.

(Continua...)