sexta-feira, 25 de março de 2011

Algo

Estava sentada à mesa de uma lanchonete qualquer e estava estarrecida. As coisas aconteciam rápido demais, pelo menos as ruins, tão rápido que ao se dar conta já estava ali com umas duas bolsas e algumas peças de roupa dentro, pouquíssimo dinheiro na carteira e nenhum plano de ação. Tentava maquinar algo, o cérebro parecia trabalhar rápido, mas tal rapidez não surtia nenhum efeito, só uma dor de cabeça irritante. Aonde ela iria agora? O que faria de agora em diante? E ainda: Onde ia parar? Tinha uma sede interna de respostas e...


-SETENTA E SEIIIIIS!

Graças a Deus! Era seu pedido. Levantou-se e por um segundo pensou não conseguir mais caminhar com destreza. Sentiu-se tonta. Aquela bandeja posta em cima do balcão, ela precisava alcançá-la! Trouxe-a até a mesa. Que sanduíche era aquele mesmo? Não importava. Qual foi a última refeição que fizera? Talvez tenha sido o pão duro no café da manhã... É... Fora isso mesmo. Foi mastigando. Era esquisito comer depois de tanto tempo de estômago vazio, principalmente quando não se sentia fome, só uma leve fraqueza. No momento ela temia que aquela fosse sua última refeição e vejam só! Estava comendo um sanduíche e ele nem tinha bacon, só calabresa! Vida pão dura! Aquele episódio dramático merecia enredo melhor. Sua última refeição deveria conter algum prato com camarão, frutos do mar, escondidinho de charque ou quem sabe um banquete! Era isso, um banquete! Um banquete com vários de seus pratos favoritos. Mas não, aquele sanduíche mequetrefe era o único sabor que seu paladar experimentava.

Espera! O universo não estava conspirando, então aquela não deveria ser sua última refeição, mesmo! Calma, olhe ao redor. Nos filmes as pessoas encontram grandes chances tão facilmente, tão milagrosamente. Os protagonistas pagam seu último centavo na entrada de uma casa de... (o que seria aquilo? Uma espécie de boate, certo?)... E conseguem um excelente emprego, a felicidade bate à porta e as pessoas felizes encontram o amor de suas vidas, tudo isso cantando: Welcome to Burlesque... Vai que algum moço bonito e educado não sentava à mesa junto a ela, puxava uma conversa descontraída e de tão envolvente e gracioso ele a faria contar seu drama épico. Ofereceria emprego e, enquanto ela se organizava, um abrigo na casa dele. Ela seria esplêndida ao desempenhar sua função e logo seria promovida conseguindo o dinheiro necessário para suportar os gastos de um lugar para morar. Contaria ao rapaz, agora tão íntimo dela, que tinha conseguido, que pagaria o aluguel a ele referente aos meses que ela o incomodou e, agradecida, mostraria seu novo endereço. Ternamente diria não poder ter conquistado aquilo sem ajuda dele. Ele olharia no fundo de seus olhos, agora tão infinitos, bem diferentes do dia o qual a encontrou naquela lanchonete, tão rasos... Enfim, olharia nos olhos dela e faria uma declaração de amor. Não! Ele apenas a beijaria. Não. Ele diria qualquer coisa bonita (e ela ainda ia montar esse discurso) então a beijaria. Pronto! Mas como aquilo seria vida real os créditos não iam subir e eles diriam que estão vivendo felizes para sempre. Ele a levaria...

-NOVENTA E UUUUM!

Como assim? O quê? Que horas seriam? Ela passou tanto tempo ali sonhando? Era tarde! Onde ia passar aquela noite? Não poderia, definitivamente, voltar pra casa. Na realidade poderia! Poderia voltar e continuar como estava, vivendo o sonho de outra pessoa, mesmo ele sendo seu pesadelo. Acordando meio zumbi, sem vontade de nada e com vontade de tudo, sem fome, sem esperanças, um futuro sendo trilhado sem o seu consentimento, desgastada com algo que nem a deixaria satisfeita, só mais frustrada (e é até estranho imaginar um nível de frustração maior que aquele). As aspirações árduas que ela conseguia sonhar ultimamente eram só até a festa mais próxima: segurar firme até lá, economizar o dinheiro das entradas e o do álcool, conseguir a roupa certa e confortável, beber muito, extravasar, fugir, voltar, dormir, acordar e iniciar o plano festa novamente. Era isso e fim. Não, ela não poderia voltar. Afinal não era só aquilo. Existia bem mais, bem mais, bem mais do que ela pudesse suportar, pelo menos naquele momento.

-Anda, anda! – Ela disse enquanto olhava de um canto a outro encarando os clientes da lanchonete- Calma, ele vai aparecer! – Ela agora olhava pela janela, procurando alguém caminhando na rua.

Era tarde e o moço estava mais que atrasado. Ela teria de sair da lanchonete e quando ela saísse como ele iria encontra-la? O mundo era vasto demais lá fora, tanto que ela própria tinha se perdido. Anda moço bonito e educado...

Ela esperou o moço não chegar. Agora era tarde pra voltar atrás. Bateu com a testa no vidro da mesa umas três vezes, se quisesse morrer teria de bater com mais força e com aquela cabeça dura, bem mais forte ainda. Repassou inúmeros eventos ruins da sua vida e sentiu-se mais abatida.

-*Por favor, Deus. Por favor! – Ela tentou um prece baixinho . -Eu não posso ter sido uma menina tão má assim. Estou pagando pelo que mesmo, hein? Por favor, vida, faz esse moço chegar, faz esse milagre acontecer, me traz uma surpresa boa, poxa! Mostra uma resposta, uma ajuda, um amparo... – Abriu os olhos e esperou alguns segundos por um sinal, olhou o celular, leu todos os letreiros em volta, calou a mente e tentou escutar o coração, só reparou que ele estava acelerado demais e só ouvia a balburdia dos clientes da lanchonete. - Vida, eu prometo que serei bem desastrada pra você poder rir de mim, vou tropeçar no meio da rua, mas agora não poxa. Ri de mim desse jeito é fogo.

O celular vibrou como foi combinado, era Tereza e ela disse que acabara de sair do curso de inglês. Como Alice ainda estava ali na lanchonete Tereza a levaria com ela para casa. Assim ela teria onde passar a noite e, claro, poderia chorar e aliviar o peso do que tinha acontecido com alguém e ninguém melhor que ela.

(...)

Abriu a porta do carro, deu a última olhada ao redor, ansiosa por algum tipo de milagre e pelo moço. O carro começou a andar deixando a lanchonete para trás. Ela sentiu o estômago embrulhar porque agora... Bem, agora o desastre era oficial.
Eu não entendia nada direito. Tinha um bilhão de coisas espalhadas ali comigo e por ela estar confusa eu ficava pior. Comecei a me inquietar. Eu sabia! Eu estava esperando ansiosa, mas não posso negar que esperava por coisas boas.  Ela me desligou antes que eu achasse qualquer coisa por ali, mas senti que aquela história ia me render mais bagunça ao meu redor. Ela olhava seu rosto pelo retrovisor do automóvel, foi a última cena que vi, então ela nos recolheu!

2 comentários:

  1. continua, continua, eu preciso do resto de alice.. aahahaha QUE MERDA TUTZ, qndo eu tava ficando empolgada , nao tem mais oq ler..
    se mate doido! aaaaaaaaaaaaaff..
    só nao morra de parada cardiaca descendo a escada, por favor!
    kkkkkkkkkkkkkk, aguardando... mais alice.
    bjsss rahh

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  2. (Acho que Alice deveria ler Pollyanna de Eleanor H. Porter.)

    E se Tereza não tivesse aparecido? e o cara educado também não? Acho que esse é que seria o desastre oficial.

    (Fiquei com saudades de um certo lugar que tem sanduíche de bacon, é inevitável não sentir saudades de certas pessoas tbm.)

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